Modelo de Markowitz e CAPM: Como otimizar carteiras de investimento
- lmbelo94
- 27 de out.
- 5 min de leitura
Vamos aprender a técnica de de otimização de carteiras.
Pré-requisitos: Probabilidade, Álgebra Linear e Noções de Finanças Quantitativas
Introdução
Por que duas carteiras com os mesmos ativos podem ter destinos tão diferentes?
Imagine dois investidores que compram os mesmos papéis. Um dorme tranquilo; o outro vive sobressaltado. A diferença não está nos ativos em si, mas em como eles foram combinados. É aqui que entram a Bala de Markowitz — o mapa risco–retorno das carteiras — e o CAPM, que conecta risco sistemático e retorno esperado. Neste post, você vai ver como desenhar essa bala, onde fica a tal fronteira eficiente, e por que o CAPM diz que é o beta que manda na conta quando há ativo livre de risco.
Teoria da carteira de Markowitz (Modelo da Média-Variância)
O objetivo da teoria da carteira de Markowitz é alocar de forma ótima recursos financeiros entre diversos ativos de renda variável, ou seja, determinar a composição ótima de
uma carteira ou portfolio de ativos financeiros de renda variável. Basicamente, nosso objetivo é descobrir como alocar uma riqueza xo entre ativos de renda variável com retornos R1, R2, ..., Rn.
Vamos calcular o risco-retorno da seguinte carteira:

com θi não negativos e Σ θi = 1. Para melhorar a notação, com o objetivo de trabalhar com vetores, usaremos:

Ao plotar diferentes combinações de θ temos a chamada Bala de Markowitz. Nela existe uma região, a fronteira da bala em sua parte superior, onde estão as carteiras com melhor risco-retorno. Esta região é chamada de fronteira eficiente.
![Bala de Markowitz para n = 3 (fig. Cabral[1])](https://static.wixstatic.com/media/4fbe17_faefd26998e64895a1ab9da1e953f163~mv2.png/v1/fill/w_501,h_343,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/4fbe17_faefd26998e64895a1ab9da1e953f163~mv2.png)
Uma vez definida a formulação, existem dois tipos de problemas de otimização com restrição que envolve. Cada um deles dependem do seu interesse.
a) Problema 1: Fixe o risco máximo
A questão é: “Tenho um orçamento de risco. Dentro desse risco, qual a carteira mais rentável?”. Fixado o risco máximo σo, vamos encontrar a carteira mais rentável.

b) Problema 2: Fixe um retorno mínimo
A questão é: “Tenho uma meta de retorno. Qual a carteira com menor risco que entrega essa meta?”. Fixado o retorno mínimo, vamos encontrar a carteira mais rentável.

Não se engane, ambos traçam a mesma curva (a fronteira eficiente), só que você percorre a curva:
no Problema 1 variando o limite de risco;
no Problema 2 variando o alvo de retorno.
A fronteira eficiente é o conjunto de respostas ótimas conforme você varia o “orçamento de risco” (P1) ou a “meta de retorno” (P2).
Modelo CAPM (Capital Asset Pricing Model)
O cenário é semelhante ao abordado acima, mas incluiremos a renda fixa. A adição desse termo visa o desejo de qualquer investidor em renda variável que é o "retorno esperado acima daquele proporcionado pela renda fixa".
Nesse cenário, vamos trabalhar o CAPM usando o Índice Sharpe, o qual possui a ideia de entender quanto retorno temos por cada unidade de risco.

Em termos de finanças, estamos analisando o ativo livre de risco. Sem ele, a sua “Bala de Markowitz” (o mapa risco–retorno das carteiras só com ativos arriscados) é uma curva. Agora, com a adição da renda fixa haverá uma reta que começa em ro e tangencia a bala no ponto de maior Sharpe (a carteira tangente).

Essa reta é a Linha do Mercado de Capitais (CML).

Em resumo

Vantagens e desvantagens
a) Markowitz
Vantagens
Fundação conceitual clara: coloca o trade-off risco–retorno num problema convexo; com isso há soluções estáveis e “ótimas” sob os insumos.
Interpretabilidade: risco como variância, retorno como média — fácil de explicar e visualizar (bala + fronteira eficiente).
Soluções fechadas (sem restrições de sinal) e solvers padrão quando há restrições (QP).
Baseline universal: ponto de partida para quase todo o resto (GMV, tangente, Black–Litterman, robusto, parity, etc.).
Desvantagens
Normalidade / média–variância: trata risco como variância; ignora assimetria e caudas (penaliza upside e não captura risco de fila grossa).
Covariância constante: supõe Σ fixa; na prática, covariâncias mudam no tempo (regimes, crises).
Alto erro de estimação: μ e Σ são difíceis de estimar; pequenas variações viram grandes mudanças de pesos.
Concentração extrema: soluções “puras” tendem a concentrar em poucos ativos (especialmente com μ ruidoso).
Modelo estático de um período: ignora rebalanceamentos dinâmicos, custos/tributos, restrições reais (lotes, alavancagem limitada).
Sensível a inputs: forecasts de retorno (difíceis) dominam a alocação; mudanças mínimas geram carteiras muito diferentes.
b) CAPM
Vantagens
Regra simples de precificação
Interpretação clara: só o risco sistemático (beta) é remunerado.
Separação em dois fundos: simplifica a decisão — um portfólio de risco (mercado/tangente) + renda fixa.
Benchmark e linguagem comum: base para custo de capital, avaliação de performance (alfa/beta), comparação entre gestores.
Desvantagens (clássicas e empíricas)
Hipóteses fortes: empréstimo/aplicação a rf sem fricções; expectativas homogêneas; um período; sem impostos/custos.
Carteira de mercado não observável: “Roll’s critique”; na prática usa-se proxy (índices) com viés.
Beta instável: β muda no tempo (mudanças estruturais/regimes), e seu poder explicativo não é total.
Quebras empíricas: anomalias cross-section (tamanho, valor, momentum, qualidade) não são capturadas por um único fator.
Mercados com fricções/restrições: alavancagem limitada, short proibido, custos e tributação afastam o equilíbrio do CAPM.
Técnicas de otimização/estimação de portfólio
O CAPM é um modelo de precificação em equilíbrio cujo objetivo é relacionar retorno esperado ao risco sistemático (beta) e, em equilíbrio, identificar a carteira de mercado. Existem também técnicas de construção/otimização de carteiras — eles escolhem pesos dados certos insumos (médias, covariâncias, restrições, custos, medida de risco) para obter pesos implementáveis. Vou listar alguns para o leitor (posso abordar alguns no futuro):
Mean-variance com shrinkage
CVaR
HRP
Black--Litterman
Há modos de conectar o CAPM com alguns deles, por exemplo, você pode usar o CAPM para estimar μ (prêmios esperados) e depois otimizar com um desses métodos (ex.: mean–variance com shrinkage em Σ e penalização de turnover). Os itens listados não “calculam o CAPM”. Na verdade eles melhoram a construção da carteira e mitigam fragilidades do Markowitz.
Implementação
Realizei algumas implementações desses modelos que pode ser encontradas no meu GitHub.
Conclusão
No fim das contas, a Bala de Markowitz e o CAPM seguem valiosos como bússolas conceituais: a primeira organiza o trade-off risco–retorno e mostra por que a diversificação importa; o segundo explica, com o ativo livre de risco, por que o beta do mercado é a régua de precificação em equilíbrio. Na prática, porém, estimativas imperfeitas (de retornos e covariâncias), mudanças de regime e fricções exigem variações modernas: covariâncias dinâmicas e com shrinkage, otimizações com regularização e custos, medidas de risco de cauda (CVaR/drawdown), estruturas como Risk Parity/HRP e modelos multifatoriais (Fama–French, momentum, qualidade). Usados assim — como baseline e ponto de partida para versões robustas — Markowitz e CAPM continuam sendo ferramentas centrais para transformar intuição em carteiras executáveis.
Referências
Livro Finanças Matemática Teoria e Prática - Marco A. P. Cabral
Trading 212 (capital-asset-pricing-model)
Markowitz, H. (1952). Portfolio Selection. Journal of Finance.
Sharpe, W. F. (1964). Capital Asset Prices: A Theory of Market Equilibrium Under Conditions of Risk. Journal of Finance.
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